Vai ficar gravado? Posso acessar depois? Você já deve ter feito essas perguntas em algum curso ou experiência online em que participou. Provavelmente, já “viu” pessoas fazendo a mesma pergunta em relação a experiências no universo online. Aqui no Círculo, essas são questões recorrentes em relação a cursos que possuem aulas ou mentorias online ao vivo.
Há, praticamente, um desespero por não perder algo que a pessoa nem sabe como será. E, na maioria das vezes, a pergunta vem de quem tem outras atividades ou compromissos no mesmo dia e horário. Cada vez mais, achamos que podemos fazer três ou quatro coisas ao mesmo tempo.
É comum, por exemplo, alunos que estão, ao mesmo tempo, ouvindo a aula/mentoria ao vivo (com a câmera desligada) e trabalhando em seus computadores, ou ainda, ouvindo de dentro do carro enquanto dirige. Também existe a ideia de que estando gravado “um dia” haverá tempo para acessar com tranquilidade e absorver todo aquele conteúdo. Esse dia nem sempre chega…
Entendo que a realidade das pessoas é complexa e que às vezes é o que dá pra fazer no momento. Faz parte da vida adulta. A ideia aqui não é fazer julgamentos sobre as escolhas de cada um, mas trazer uma reflexão sobre o nível de presença que você está entregando para cada experiência ou escolha na sua vida.
Claro, isso não se aplica a tudo. Alguns cursos gravados são maravilhosos para assistir e reassistir. Nós temos vários, temos plataforma de streaming também, com conteúdos gravados. Porém, mais uma vez, trago aqui uma reflexão e não um julgamento binário sobre o que é melhor ou pior.
De nossa parte, estamos optando cada vez mais – no caso de mentorias ou aulas perguntas & respostas, que é quando a pessoa tem acesso às aulas gravadas e depois um encontro por videoconferência – fazer apenas ao vivo, sem gravação, para garantir a qualidade da presença dos alunos. Além disso, queremos proporcionar um ambiente psicologicamente seguro, no qual as pessoas possam trazer suas questões e vulnerabilidades.
Já recebemos, inclusive, reclamações sobre essa escolha, pois alguns não entendem esses argumentos. Acham que seria muito mais fácil gravar e disponibilizar tudo. Sim, seria fácil. Basta gravar e fazer upload na plataforma. Talvez até nos rendesse mais, financeiramente falando. No entanto, somos uma escola filosófica. Ensinamos as pessoas a pensar, a fazer melhores perguntas, a refletir sobre suas escolhas e vidas.
Observamos que, cada vez mais, a falta de presença prejudica o aprendizado e o desenvolvimento filosófico e espiritual das pessoas.
Isso me lembra uma sigla que surgiu nos Estados Unidos sobre o medo de perder algo importante: FoMO (fear of missing out). A FoMO – medo de perder algo – é considerada uma síndrome e foi mencionada pela primeira vez no início dos anos 2000, pelo estrategista Dan Herman. Ela é mais abordada em relação às redes sociais, mas, cada vez mais, faz sentido em relação ao aprendizado.
Aprender exige presença, envolvimento, interação, troca e emoção. É impossível ter tudo isso quando se está fazendo três coisas ao mesmo tempo. Talvez você até diga que consegue, mas é impossível ter profundidade.
Aliás, outra raridade é o conhecimento em profundidade. Acessamos, a cada dia, um número maior de informações, mas temos, cada vez menos, construção de conhecimento verdadeiro. Tudo fica na superfície. Poucos são os assuntos em que conseguimos, de fato, mergulhar a ponto de eles nos transformarem. Veja o que diz o Prof. Dr. Tal Ben-Shahar, referência mundial em Psicologia Positiva:
“…se sua preocupação principal é consultar o máximo de material possível e ticar todas as caixinhas do checklist, então trocar a profundidade em benefício da abrangência é o caminho a seguir. Mas, se sua preocupação principal é cultivar a felicidade, ser integral, então você deve empregar pelo menos parte de seu tempo disponível examinando as coisas mais a fundo.” (Livro Seja mais feliz, aconteça o que acontecer)
Aqui no Círculo, dizemos que o Conhecimento gera Movimento, que gera Transformação. Porém, essa tríade só é possível com presença e com aprendizado em profundidade.
Então, fica a reflexão: na próxima vez que você for escolher um curso, pense: vou conseguir realmente estar presente nessa experiência? Vou permitir que esse conteúdo me transforme?