Escuta ativa: Dê-se o tempo necessário para digerir

Saber ouvir passa por saber ouvir-se. É a prática da escuta ativa, de respeito à posição e do pensamento do outro.

Saber ouvir passa por saber ouvir-se. É a prática da escuta ativa, de respeito à posição e pensamento do outro.

“Nunca mentir, mas nem sempre dizer toda a verdade”
Papa João Paulo II

Parece uma frase estranha, ainda mais vinda de um Papa. A ideia que ele trouxe me remete ao principio Hermético que diz “leite às crianças e carne aos homens formados”. Precisamos de uma escuta ativa. A verdade pura, direta e reta, pode desestabilizar um organismo, por mais que seja a verdade. 

Pense, por exemplo, se você der arroz, feijão, batata e bife para uma criança recém-nascida. Ela não tem condições orgânicas ainda para fazer uma boa absorção e digestão desse tipo de alimento. 

Jean Piaget trabalha com o conceito de “equilibração”, que eu gosto bastante. Toda vez que um novo conhecimento chega até nós, ele não encontra referência, e gera desequilíbrio. Assim, precisamos de um tempo para organizar esse novo conhecimento, o que ele chama de “assimilação” para buscar o processo de “equilibração” e voltar ao eixo a partir do conhecimento já integrado em nós.

Quando falamos a verdade, precisamos perceber se as pessoas estão preparadas para receber. Pensamos que estamos fazendo um grande favor quando estamos não respeitando o status evolutivo do outro. Estamos agindo pela nossa verdade e nossa necessidade de impor valores.

Falo do ponto de vista de filósofo e não de sábio. De quem já melhorou muito, mas ainda tem muito a aprender.  

Precisamos ter a consciência de que certas compreensões jamais serão alcançadas por algumas pessoas, porque cabiam apenas a nós. Mas, às vezes, queremos que o nosso jeito de crer e se relacionar seja o padrão. Cada ser humano tem um jeito, uma alquimia de personalidades e valores, uma crença não funciona para sete bilhões de pessoas.

Matemática comprovando o óbvio

Uma pesquisa do Instituto Gallup, que mapeou os talentos naturais, comportamentos, relacionamentos e sentimentos nas pessoas, mostrou que quando investimos nos talentos naturais evoluímos muito.  O Gallup agrupou esses talentos em 34 categorias com uma ordem. Você faz o teste e ele organiza esses temas em um ranking. Seus primeiros dez talentos são os mais fortes em você.

São 50 anos de pesquisa baseada em psicologia positiva e de pontos fortes, que mostram que o arranjo desses talentos faz cada um de nós pessoas únicas. E, no Brasil, a probabilidade de duas pessoas terem os mesmos primeiros cinco talentos é de um para 33 milhões.

É uma pesquisa demonstrando matematicamente que somos pessoas únicas. Mas, ainda assim, insistimos que existe uma fórmula. Haja vista os muitos livros com “mandamentos”, leis, fórmulas de sucesso. Você lê um livro que diz: “conheça os dez hábitos de pessoas de sucesso” e, quando não tem nenhum deles, se sente um bosta.

Ninguém cabe na minha forma e eu não caibo no molde de ninguém. É preciso um entrosamento. E aí sim há um caminho para que as pessoas se complementem e juntas sejam mais fortes ao fazerem o que tem que ser feito.

Como nasce o entrosamento?

Nasce da escuta ativa. Em minha opinião, é necessário fazer um movimento de aprender a ouvir mais do que falar. É aprender a ouvir e digerir, e não apenas escutar para responder. Entrar num diálogo disposto a entender os processos que levaram o outro a chegar àquelas conclusões.

Praticar a escuta ativa, de respeito à posição e do pensamento do outro. A digestão disso, com vias ao entrosamento, é um desafio. Porque esse saber ouvir, passa por saber ouvir-se.  Sem aprender a usar a escuta ativa com a própria vida, é impossível fazer com o outro.

Sugiro digerir tudo isso e se perguntar: Porque estou sempre oferecendo minha sinceridade para fora e não para dentro de mim? Do que estou fugindo?

Senão, seremos sempre os sinceros que têm algo a apontar na conduta do outro, mas sem capacidade de olhar para nós mesmos.

Sempre avanti! Che questo è lá cosa piú importante!

Juliano Pozati

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