Estudos sobre Política e Religião no Brasil

Professor Dr. Vinicius do Valle pesquisa temas como comportamento político e eleitoral, voto religioso e pentecostalismo

Professor Dr. Vinicius do Valle pesquisa temas como comportamento político e eleitoral, voto religioso e pentecostalismo

Vinicius Saragiotto Magalhães do Valle, Doutor e Mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), percorre um campo de estudo delicado, é pesquisador das relações sobre política religião no Brasil, em especial sobre a ascensão dos evangélicos, não apenas como expressão religiosa, mas com representatividade política. Os estudos de Vinicius mostram que esse movimento tem um projeto organizado desde antes da Constituinte de 1988.

Vinicius é Professor Doutor da Faculdade Santa Marcelina e pesquisa as áreas de comportamento político e eleitoral, cultura política, voto religioso e pentecostalismo. Graduado em Ciências Sociais, é Membro do grupo de pesquisa Pensamento e Política Brasileira, coordenado pelos professores André Singer e Bernardo Ricupero, e do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (CENEDIC).

CIRCULO – Como surgiu seu interesse em estudar política e religiosidade?

Vinicius do ValleNo Brasil temos vários ditados populares que eu acho que são bastante representativos da nossa cultura autoritária. Não discutir política, religião e futebol são alguns. Eu acho que essas coisas são discutíveis sim e a gente precisa falar mais sobre isso para entender o que está acontecendo. Por isso acabei indo para essa área. Na época que comecei, em 2010, mais ou menos, ainda não imaginava que a coisa ia tomar a proporção que tomou posteriormente. Eu acho que a gente está se tornando mais influenciável pela religião nesse período que pesquisei, e isso é, muitas vezes, um sinal negativo para quem tem uma visão política de que essas coisas vão se misturam.

Na verdade, são esferas que estão sendo misturadas há muitos séculos na humanidade. Politica e religião tiveram movimentos cíclicos de união e separação. Mas a religião sempre esteve presente. E há algo muito difícil de fazer é fazer a separação entre o que é o que não é religioso. Porque o pensamento religioso está por trás de muitas filosofias e autores que a gente lida, a princípio, como seculares. A religião está dentro do espaço público porque as pessoas estão dentro do espaço público. E não estou justificando a interferência, só estou dizendo que ela existe.

CIRCULO – Como aparece nas suas pesquisas, quando a religiosidade sai da dimensão espiritual e se converte em expressão política?

Vinicius do Valle Isso foi um projeto desde o início. Inclusive podemos ver isso textualmente em discussões de congressos Eclesiástico, encontros de lideranças religiosas e livros publicados por lideranças religiosas. No caso dos evangélicos, faço uma importante ressalva, de que evangélicos não são todos iguais, existe muita coisa diferente sobre esse rótulo. Os Pentecostais, em especial, têm buscado entrar na política desde a constituinte de 1988 e se organizando para isso a partir de um de um projeto político evangélico pentecostal.

Existe um livro muito interessante chamado “Irmão vota em irmão” de Josué Sylvestre, publicado um pouco antes do processo da constituinte, que defende que os evangélicos têm que se colocar na política enquanto evangélicos e disputar esses espaços para colocar seus valores, se opor a outros grupos religiosos e converter isso em força de expressão política, de representatividade.

CIRCULO – O que é Voto Religioso?

Vinicius do ValleÉ algo que costuma de ser feito de forma sutil, mas o fiel entende que a igreja esta apoiando determinado candidato. E assim o fiel entende de que lado a igreja está. E quanto mais engajado ele for, na comunidade, mas propenso a votar no candidato que o pastor indicar ele está. As igrejas têm muita força sobre as vidas das pessoas, a questão política e mais uma esfera.

CIRCULO – Você acredita que pode haver uma flexibilização de alguns valores como, por exemplo, nas questões com a comunidade LGBTQIA+?

Vinicius do Valle Eu diria que uma parte da base evangélica é muito menos autoritária, mais progressista e tolerante, do que seus líderes fazem parecer ser. E, no Brasil, não somos uma sociedade “puritana”. Os pastores lidam bem com isso no nível local, mas no nível político os lideres assumem uma postura bastante diferente e começa a haver atritos entre representante e representado. Uma coisa que temos assistido nos últimos anos é o surgimento de igrejas evangélicas pentecostais inclusivas em relação à homossexualidade, por exemplo, e outras formas de expressão sexual. Então não podemos olhar para os lideres religiosos e pensar que todo esse contingente populacional pensa assim.

CÍRCULO – Estamos vendo também na sociedade muitas pessoas se desvinculando de suas religiões, mas sem perder a fé. Você acha que isso é uma tendência?

Vinicius do ValleSim, acredito que seja uma tendência. E algo que já começamos a observar nos últimos anos, são evangélicos se denominando: evangélicos não praticantes, ou seja, que não frequentam uma igreja regularmente. Algo comum entre católicos. É um pouco estranho pensar no que isso implica, porque a pessoa é ou não é? E acho que isso é um reflexo da modernidade sim. A teoria da secularização, que começa com Max Weber, é justamente sobre a religião sendo confinada ao espaço privado e perdendo espaço no público. Acho que isso de alguma forma está acontecendo ao longo dos séculos e observa-se isso entre evangélicos, agora que temos um número considerável na sociedade brasileira.


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