O quanto nossas crenças afetam a forma como percebemos a realidade

A série The Mandalorian, da Disney, traz uma questão camuflada, que é a crença

A série The Mandalorian, da Disney, traz uma questão camuflada, que é a crença

Achei muito bom a forma como a série The Mandalorian (O Mandaloriano), da Disney, está abordando a questão das crenças. É algo muito sutil, mas é sobre isso que quero falar. E já alerto que tem spoiler nesse texto.

Apesar do sucesso do seriado, a maior fonte de receita do cinema é algo chamado licenciamento, que é quando uma marca permite que outra empresa utilize elementos que ela criou no seu storytelling e venda isso pagando royalties. Tudo que você vê sendo vendido seja roupa, brinquedo, decoração de festas, tudo isso é licenciamento. Isso é muito antigo e foi inclusive o salvou a Disney no início, quando ela quase quebrou, foi a venda de produtos do Mickey. No caso do Mandalorian, por exemplo, um boneco do bebê Yoda custa R$ 600,00. É assim que o cinema funciona.

Para além disso, a série tem trazido uma questão camuflada, que é a questão da crença.

O Mandaloriano, que era inicialmente a uma raça em um planeta, torna-se uma crença, uma religião, a todo o momento, fazem referência a um credo. São caçadores de recompensa na sua maioria, tem um fanatismo religioso.

O grande lance é perceber, no caso do Mando, o quanto ele vai redescobrindo as situações a partir dos sentimentos dele e a partir das experiências que ele começa a perceber.  Quem já viu os filmes originais, sabe que os Jedis são centro do filme e , de repente, nessa série há outro ponto de vista. O próprio Mando não sabe quem são eles e vai descobrindo ao longo do caminho. E isso dá uma noção de que, às vezes, colocamos algumas coisas no centro da nossa vida como se elas fossem o umbigo do universo. Pode ser o umbigo do nosso universo, o que elegemos como sendo da a crença. Mas não adianta querer que o coleguinha gire em torno do mesmo umbigo que você. No caso do Mandaloriano, ele sequer saber da ordem Jedi, e o que ele começa a ouvir é que um bando de feiticeiro.

Quando eu estudava teologia bíblica, o Padre Lucas, que me dava aulas, ensinava que era preciso saber separar uma narrativa religiosa, que conta uma historia para transmitir uma estrutura de crenças, de um registro histórico, uma narrativa essencialmente histórica, com precisão de detalhes. Exemplo disso é a saída do povo Hebreu do Egito, na narrativa bíblica parece que foram milhares de pessoas, quando, na verdade, muito provavelmente não passava de 40 ou 60 pessoas. Não existem registros. Ou seja, não foi um episódio digno de menção, mas, na Bíblia, parece que foi um trauma na vida do Egito. Não é que seja mentira o que está na Bíblia, mas é uma narrativa de uma experiência religiosa e espiritual. Aquele povo que conquista sua liberdade e vai em frente, vive uma vitória, uma ousadia, eles conseguiram superar os grilhões. Aquela é uma perspectiva, mas não a totalidade da realidade.

Cada narrativa apresenta um ponto de vista

O mesmo ocorre em Mandalorian, a primeira crença que é a refeita é que o Jedis são o centro do universo.  E nós somos os reais protagonistas da nossa própria história. Muitas vezes o nosso protagonismo está deslocado no outro e nos falta essa perspectiva de trazer a história para nós.

E, analisando outro aspecto de Mandalorian, eu acho interessante como o credo dele vai sendo ressignificado aos poucos ao longo da série. E quando ele vai entregar o baby Yoda, você percebe que o sentir humano está para além, é muito mais profundo que a casca dos credos. E a primeira coisa que acontece é que ao entregar, o sentir, a intuição, a humanidade e a espiritualidade dele falam mais alto. E aí que nossos dogmas começam a ser ressignificado.

Depois ele se encontra com a sacerdotisa, que fica no submundo e começa a perceber que todos tiraram a máscara. Começa a perceber que o mundo não se resume ao buraco de fechadura daquilo que ele acredita. São coisas muito sutis do ponto de vista de ressignificação de crenças. Muitas vezes nós também agimos como caçadores de recompensa, agimos como se tivéssemos um cabresto. A máscara é uma crença e, a todo momento, somos convidados a tirar a máscara e ver o mundo como ele é.

Um ponto marcante para mim da segunda temporada é quando ele se encontra com outros mandalorianos e eles tiram o capacete. E dizem para ele que isso não tem mais nada a ver, que é uma crença antiga. Foi um choque para ele.

Mandaloian traz essa ideia de dogma, do fanatismo, da ressignificação e da jornada de expansão de consciência. No fundo, a crença está sendo questionada.  Existe uma proposta de repensarmos as crenças que filtram a nossa realidade.

Então te convido a assistir e série e me falar o teu ponto de vista. O que mais que eu não estou vendo?

Sempre avanti! Che questo è lá cosa piú importante!

Juliano Pozati


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