Daniel Goleman desmistifica a ideia de pessoa focada
O aumento de informações que temos acesso atualmente pode ser demais para a capacidade cognitiva do homem moderno. Ter um filtro de seleção dessas informações e escolher conscientemente aquelas que são úteis de prestarmos atenção e aquelas que vão apenas sugar tempo e energia, pode nos ajudar a fazer escolhas mais conscientes e alinhadas aos nossos planos. A esse filtro, podemos dar o nome de Foco.
Daniel Goleman, pesquisador da Universidade de Harvard, publicou um livro sobre o tema para desmistificar ideias mal interpretadas sobre o que é e para que serve essa habilidade.
Uma ideia errada que atribuímos ao foco é achar que a pessoa focada é aquela que determina um objetivo e o segue obcecadamente. Ou que foco significa fazer sempre a mesma coisa para o resto da vida. Na verdade, não. Nós, aqui no Círculo, por exemplo, queremos contribuir para a transformação da nossa sociedade. Para isso, temos várias ideias, projetos, ramificações que partem deste foco maior.
O foco, na verdade, é a habilidade de observar mais de uma variável ao mesmo tempo. Por isso, Goleman sugere a ideia de foco triplo: foco interno, foco no outro e foco no contexto.
- Foco Interno – é a nossa bússola interna e se torna eficiente quando temos autoconsciência da nossa identidade, bem como uma visão realista de onde estamos e para onde vamos – e como vamos, inclusive. Por isso é tão importante diminuirmos as chamadas “distrações emocionais”.
- Foco no outro – é a capacidade de perceber as necessidades, diferenças e emoções daqueles que nos cercam. Um líder indiferente ao impacto de suas ações (e não-ações) no grupo, certamente terá problemas de desmotivação e queda de desempenho a médio e longo prazo.
- Foco no contexto – é observar o momento, o que ele está pedindo. Você acha uma boa ideia virar mochileiro no meio da pandemia? E abrir um comércio que precisa de muito movimento para se sustentar em um lugar totalmente isolado ou sazonal? Isso acontece quando queremos aplicar nossas idéias sem conectá-las àquilo que está à nossa volta.
Para termos a habilidade de foco plenamente desenvolvida, temos que considerar que foco não é algo estático. Ele se parece mais com uma lente do que com algo parado. A lente dá zoom para olhar o detalhe, tira o zoom para olhar a cena toda, tem ajuste de luz e sombra, e o operador a coloca em vários ângulos diferentes para ver qual seria a melhor posição para aquele momento. Se a luz ou algo na cena muda, o operador reposiciona a lente. É isso que alguém focado faz: fica presente plenamente no momento, e avalia tudo à sua volta, constantemente.
O bom líder tem essa característica como um traço bem marcante, e isso conta mais na performance dele do que nas habilidades técnicas (as “hard skills”), como demonstrou a pesquisa do Goleman e de tantas outras relatadas no livro dele. O líder focado tem uma ótima conexão com o ambiente onde atua, bem como ciência de seu mundo interior e do mundo interior daqueles que lidera. Ele entende o momento e sabe comunicar com clareza o foco da empresa. Além disso, ele sabe que a equipe tende a focar para a direção onde está a atenção dele.
O autor comenta também sobre um foco ainda mais amplo, o sistêmico, em que todas as ações individuais e coletivas sejam pensadas a partir daquilo que beneficie a todos os envolvidos.
De que adianta – para o futuro da humanidade – sermos criativos se nossa criatividade estiver a serviço de manipular ou alienar as pessoas? De que adianta tecnologia se a utilizamos para levar a população a um consumismo extremo e insustentável, e ainda vender essa ideia como o ideal de sucesso? De que adianta a Ciência e os avanços em pesquisas se for para criarmos armas e fomentar a indústria bélica?
Goleman sugere que os líderes e profissionais de grandes corporações e da mídia – e também os governos – façam as perguntas certas antes de concluir se uma solução é mesmo genial:
- Ela é para o acesso de poucos? Ou de muitos?
- É apenas pra mim? Ou abrange o bem estar de outros?
- É para o benefício de poucos? ou de muitos?
- É pra obter lucro agora, ou por uma solução em prol do futuro?
Qual seria o impacto, a longo prazo, se a maioria das empresas, governos e profissionais agissem em prol da harmonia sistêmica, buscando soluções inclusivas para beneficiar o maior número de pessoas envolvidas… Já imaginou?
Simone Abate