Somos mesmo livres?

Vou contar uma história para vocês. Cerca de um ano atrás, eu tive uma grande crise de ansiedade que foi controlada com terapia e remédio. Sim, remédio controlado, porque terapeuta também sofre, também adoece. E hoje eu sei que tinha de passar por essa experiência, até mesmo para também compreender a dor dos meus pacientes, para reconhecer a efetividade de uma conduta psiquiátrica e da ciência alopática.

Mas o que isso tem a ver com liberdade?

Ansiedade é excesso de futuro, ou seja, excesso de controle sobre algo que ainda não aconteceu e nem temos como prever se vai acontecer. Ficamos presos num mundo mental inexistente, num processo de idealização e controle de uma situação que sequer aconteceu. Isso é insano, né? Digno de medicação psiquiátrica (sarcasmo mode on).

Dá uma conferida no gráfico abaixo:

É impossível ter controle sobre o outro, meio ou universo. Tentar dominar isso pode ser considerado prepotência ou, pra ser mais radical, podemos até chamar de Síndrome de Deus! Controle gera aprisionamento mental e emocional e vai desencadear ansiedade, medo e insegurança.

Atualmente o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS)*, e fomentar o consumo é um fato que gera essa ansiedade. Já que as compras são facilmente controladas (ou não). Sabemos que é muito difícil viver totalmente sem bens materiais, como moradia, roupas, carros, telefone celular. Esses são recursos que nos movem, nos sustentam ou proporcionam alguma experiência sensorial durante o nosso ciclo de vida. Mas não podemos restringir a nossa vida a bens, a ter. Precisamos viver.

Um dia eu ouvi a seguinte frase de um pai velho: “Desapega, fio”. Aí fiquei pensando: “mas sou tranquilo em relação a essas questões materiais”. Então, por que desapegar? Do que desapegar?

Vamos refletir sobre isso? Acho válido.

Quanto custa ter bens materiais na sua vida? Quanto vale uma hora da sua  vida? Qual a relação custo benefício de tudo isso?

Não vou ser o hipócrita aqui e criticar 100% o consumo, porque eu mesmo gosto e tenho muitos bens materiais, mas tenho ponderado cada vez mais e observado a relação custo-benefício, observado a utilidade que cada um deles vai ter na minha vida.

Ainda somos escravos de um sistema de vida aprisionador. Temos um carro, mas se não pagarmos os encargos o sistema o confisca. Temos um emprego e pagamos impostos, mas os sistemas de educação e saúde precisam ser privados porque os públicos não dão conta do recado. Temos, muitas vezes, um imóvel (seja ele próprio ou não) que vem acompanhado de várias contas. Se a gente não pagar, me diz o que acontece? (risos) E não estou aqui pra defender o anarquismo, muito mesmo criticar o capitalismo, apenas para trazer uma reflexão sobre as formas de aprisionamento que existem hoje na nossa sociedade.

Há ainda a prisão de relacionamento, seja com os seus pais, amigos, filhos, companheiros. Muitas vezes nos tornamos reféns uma relação baseada no sentimento de posse, disfarçado de amor. Amor que é amor de verdade liberta, não sufoca e compreende que a caminhada também é individual.

Somos também, escravos da ignorância porque, muitas vezes, a gente não quer abrir os olhos, porque esse movimento pode gerar dor, pode ofuscar e não permitir ver realmente como o mundo é, ver a luz e a sensação de liberdade que a acompanha.

Temos também medo de perder até o que não é nosso! Sim, isso é chocante, porque, cada vez mais vamos nos aprisionando nesses medos. Vamos deixando de ser livres.

Você já parou para pensar que pode não estar vivendo a sua própria vida e pode estar fora do seu eixo? Que você pode estar vivendo a vida do outro e totalmente dissociado de si mesmo?

Observe o gráfico abaixo:

Sair do eixo e viver a vida do outro, viver o futuro, o passado e/ou o meio gera uma perda de identidade, da essência e dispersa muito a sua energia.

Fique atento! Saia da terceira pessoa. Para de culpar ou responsabilizar o outro, seja ele o governo, o obsessor, o meio, o pai, a mãe, o companheiro e aprenda a trilhar esse caminho com autonomia. Não estou dizendo para caminhar sozinho, mas ter sim para assumir as rédeas da sua vida, a deixar a sua identidade nas coisas que você faz e, principalmente, a se amar.

Quando estamos em um relacionamento, muitas vezes repetimos as frases: “Eu te amo”, “Fique comigo”, “Você é meu e eu sou seu”. Cuidado com elas. Externar o amor é incrível, é revelador, mas ele tem que ser genuíno. É o amor compartilhado, não o amor de posse. É o amor que caminha junto, não que te prende do lado dele.  O amor liberta a quem se ama, e também respeita e permite que o outro siga o seu caminho, com as suas escolhas.

Nunca se esqueça de que o amor liberta, o amor próprio, mais ainda.

Fábio Nasa

 

PS: Fique com as reflexões:

Você é livre ou escravo?

Você quer ser livre?

*Fonte: http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-maior-taxa-de-transtorno-de-ansiedade-do-mundo-diz-oms,70001677247

6 respostas

  1. Boa tarde!
    Nos achamos livres …. mas, estamos mais presos que nunca … quando conseguiremos nos libertar? Sem resposta … ainda não damos conta … precisamos trabalhar/educar muito … muito … “nosso” campo emocional, mental e moral … A grande verdade é que somente cada um de nós podemos fazer as mudanças necessárias em nosso íntimo .. somos “únicos” …. mas estamos inseridos no todo ..

  2. São tantos paradigmas a serem quebrados…mas acredito que reconhecer sua existência…já é o primeiro passo…

  3. Sempre segui a minha liberdade de pensamento, nos mandamos na mente e nao o contrario. Voce so e manipulado porque deixa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Relacionados

Estreia dia 03/04, quarta, às 20h, no YouTube.
por Grazieli Gotardo
por Juliana Rissardi